A Universidade do Algarve, com apoios do FUNDO AMBIENTAL, reativou em outubro de 2020 a rede de arrojamentos do Algarve que se encontrava desativada desde 2017. Os trabalhos da RAAlg abrangem a área geográfica que incide na região Sul de Portugal Continental, de Vila Real de Santo António a Odeceixe. A RAAlg é composta por uma equipa técnica de biólogos especializados que promove uma melhor recolha de informação e de amostras de cetáceos e tartarugas marinhas arrojados mortos, deteção de causas de morte, contribuindo para aumento de conhecimento sobre espécies marinhas protegidas dependentes do litoral português. Com o apoio, parceria e colaboração do ICNF, a RAAlg tem acesso a dois laboratórios no Parque Natural da Ria Formosa, na Quinta de Marim em Olhão, para poder efetuar necrópsias e armazenar amostras recolhidas.
Desde a sua reativação, em cerca de 6 meses de trabalho, a RAALG recebeu alertas para o registo de 39 cetáceos e 21 tartarugas marinhas, todos arrojados mortos ao longo da costa Algarvia. No caso dos cetáceos, foram registadas 5 espécies de odontocetos (cetáceos com dentes): golfinho comum (Delphinus delphis), roaz-corvineiro (Tursiops truncatus), bôto (Phocoena phocoena), baleia-piloto-de-barbatana-curta (Globicephala macrorhynchus) e golfinho-riscado (Stenella coeruleoalba); e 2 espécies de misticetos (baleias de barbas): baleia-sardinheira (Balaenoptera borealis) e baleia-comum (Balaenoptera physalus). O estado avançado de decomposição limitou a identificação de alguns indivíduos tendo sido apenas possível a determinação da sub-ordem (odontoceto ou misticeto não identificado) ou família. As espécies de cetáceos que arrojaram com mais frequência foram: Golfinho-comum (38%) e Roaz-corvineiro (13%) (Fig.1)
Relativamente às causas de morte na grande maioria dos casos não foi possível determinar a causa de morte (74%) principalmente pelo avançado estado de decomposição do animal ou resultados inconclusivos. No entanto, quando foram encontradas evidências, os casos mais frequentes estão relacionados com trauma (antropogénico ou outros; 13%), captura acidental (8%) e Captura Acidental Provável (3%). Existem também algumas situações onde não nos foi possível examinar o animal por indisponibilidade dos biólogos que se encontravam noutras ocorrências, ou porque o animal estava em local inacessível (3%) (Fig.2).
No caso das tartarugas marinhas, apenas duas espécies foram registadas. A tartaruga-comum (Caretta caretta) foi a espécie mais representada, perfazendo 80% dos arrojamentos e os restantes 20 % correspondendo a tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) (Fig.3).
Tal como nos cetáceos, na grande parte das necrópsias efetuadas às tartarugas-marinhas não foi possível chegar a uma causa de morte (85%). Todavia, quando as necrópsias foram conclusivas, as causas de morte mais frequentes são a Captura acidental provável (10%) e a Captura acidental (5%) (Fig.4).
Estes resultados são preliminares e continuam em avaliação. A utilidade de uma rede local de arrojamentos e da sua contribuição para a conservação e melhor gestão, neste caso de espécies marinhas protegidas (cetáceos e tartarugas marinhas), é importante e quer-se continuada por longos períodos de tempo. Assim avançamos na nossa missão. Agradecemos a todas as entidades e cidadãos que têm feito chegar a nós os alertas, ou proporcionando-nos condições para melhor acedermos aos animais arrojados e os possamos analisar. Não se esqueçam de consultar a nossa página www.raalg.pt e de introduzir alertas sempre que encontrem um cetáceo ou tartaruga marinha arrojada morta.