As causas de morte dos animais resultantes de arrojamentos podem ser diversas e influenciadas por vários fatores. A compreensão e monitorização contínua desses fatores são essenciais para um trabalho de mitigação eficaz que contribua para a conservação de algumas espécies, algumas delas criticamente ameaçadas ou em extinção
No período compreendido entre a reativação da Rede de Arrojamentos do Algarve (RAAlg), em outubro de 2020, e o fim do ano transato, foram dadas respostas a 222 arrojamentos de cetáceos, distribuídos por toda a costa algarvia. Devido ao estado de decomposição dos animais em alguns casos ser bastante avançado (Foto 1), grande parte dos mesmos (~41%) não foi elegível para a análise das causas de morte, por forma à não obtenção de resultados deturpados. Entre os restantes 59%, cujos estados de decomposição permitiram uma análise coerente, a principal causa de morte registada está associada à captura acidental em artes de pesca, também conhecida como bycatch. (Foto 2). Em 29% dos casos, foram encontradas evidências óbvias que apontavam para este resultado, já em 15% dos casos, apesar destas evidências não serem tão claras, a necrópsia revelou sinais que nos remeteram para um provável bycatch. Entre as outras causas de morte detetadas para os cetáceos, podemos salientar a morte por trauma sem causa determinada, as interações interespecíficas, a colisão com embarcações e a doença. Podemos assim afirmar que as mortes causadas por razões de foro antropogénico comprovadas, resultam em 38% dos casos analisados, destacando-se assim a interação humana como o maior problema.
De salientar ainda que 64% dos indivíduos afetados pelo bycath, corresponde à espécie Delphinus delphis, o golfinho-comum, o que pode estar associado à frequência das interações da mesma com as embarcações de pesca mais costeiras.